quarta-feira, 1 de outubro de 2008

FORMAÇÃO DE EQUIPES: UM QUEBRA CABEÇA DE MIL PEÇAS


Selecionar membros para uma equipe pode ser um desafio gratificante, desde que alguns cuidados sejam tomados. Seja qual for a natureza e o tamanho de uma organização, seus líderes se depararão com o desafio de formar equipes. Um desafio que começa na constituição do negócio e permanece enquanto a entidade existir – porque nada é definitivo: mudam as pessoas que formam equipes, mudam os objetivos organizacionais, mudam as condições do mercado às quais as equipes devem reagir ou, de preferência, antecipar-se.

Há, basicamente, duas situações em que a missão de formar uma equipe se apresenta: na montagem de departamentos ou áreas de uma estrutura organizacional e na montagem de equipes voltadas a um projeto específico. Em qualquer caso, o desafio principal é a seleção das pessoas.

Uma das questões a serem respondidas é se haverá um aproveitamento interno de pessoal ou se a situação demanda a busca de profissionais no mercado. Antes, contudo, que se considere o aproveitamento da prata da casa, é preciso definir o perfil dos profissionais que deverão formar essa equipe. Afinal, não basta ser da casa, é preciso ser o mais adequado.

Na opinião de Aldrin Salles, gerente de contas e projetos da Schulz Automotiva, para começar a pensar no perfil adequado, é preciso, antes, que o contratante possua uma visão dos objetivos estratégicos a serem perseguidos pela sua equipe. A partir desse discernimento, tende a ser mais fácil dimensionar a demanda que será atribuída à equipe, definir os papéis de cada um de seus membros e, finalmente, os perfis adequados para que cada papel seja bem desempenhado.

Salles, contudo, alerta para a possibilidade de falhas na seleção: “Somos humanos, lidando com outros seres humanos. De todo modo, algumas surpresas podem ser evitadas, se não formos precipitados e se resistirmos à tentação de fazer promessas com possibilidades remotas de serem cumpridas.”

Viva a diferença! - No campo das tentações, há outra bastante comum entre os gestores: buscar pessoas que se assemelhem a eles. Especialistas garantem que a diversidade é mais interessante que a homogeneidade. Para Salles, a produtividade e a competitividade dão o tom: “Equipes formadas por pessoas que possuem conhecimentos e habilidades complementares, incluindo o próprio gestor, ficam mais fortalecidas. Além disso, uma equipe heterogênea tende a enxergar soluções sob diferentes prismas. O somatório dessas visões, em geral, resulta em soluções mais eficientes.”

Roberto Fernandes, psicólogo e analista junguiano, também é um entusiasta das diferenças. Para ele, os tipos psicológicos definidos por Carl Jung, o pai da Psicologia Analítica, fascinam pelo seu senso de realidade. Para explicar essa tipologia, o especialista recorre a exemplos simples: “O tipo chamado ‘sensação’ é aquele que, num acampamento, faz com que a barraca fique bem firme. Sendo uma pessoa de controle, é o primeiro a notar, se a barraca ameaçar se soltar.” Esse tipo, segundo Fernandes, é o das pessoas que estão muito ligadas ao real, aos detalhes, à organização, à operação e ao planejamento num nível não estratégico. Suas idéias são mais convencionais, o que é muito diferente do tipo “intuitivo”, que tende a ser arrojado em seus projetos e idéias, mas nem se atenta para a estabilidade da barraca. “Empreendedor, ele vê, antes dos outros e com bastante precisão, a barraca pronta, bem de frente para o mar. Acerta aonde deve chegar, mas não conte com o intuitivo para chegar à praia pelo caminho mais rápido e mais barato, nem tampouco para seguir o manual da montagem da barraca”, alerta o psicólogo.

Um tipo essencial às equipes é o tipo “sentimento”, pois é ele quem está mais preocupado com a harmonia entre os companheiros de aventura, mantendo a equipe unida. O último tipo é o “pensamento”, que tem a capacidade de análise e de síntese. “É o racional da turma. Tem a visão do projeto acampamento como um todo e identifica prós e contras. Pode ser bom de estratégia. Tende a gostar do preto ou do branco e sofrer com o cinza”, resume o psicólogo.

Sua recomendação é que o líder da equipe primeiro conheça a sua própria tipologia, para que possa definir que tipos psicológicos buscar ou que tipos já tem à sua volta. “Afinal, a expectativa equivocada sobre cada pessoa leva a uma equipe caótica, isto é, o goleiro acaba virando centro-avante e isso pode não funcionar”, diz Fernandes.

Equipes por projetos – Cada vez mais comum no ambiente empresarial é a formação de equipes temporárias, que nascem e se desfazem com o nascimento e o término de um projeto. Dentro da filosofia da diversidade, essas equipes costumam ser multidisciplinares. Nesse caso, existe, também, o desafio de lidar com possíveis disputas interdepartamentais, como as tradicionais pelejas do pessoal de marketing com o da área financeira. A dica, portanto, é lembrar de inserir o tipo “sentimento” no grupo, para harmonizar as relações.

Dependendo na natureza do projeto, há outro fator que influencia a escolha da equipe: a possibilidade de os planos não se concretizarem. Esse alerta vem de Sueli Tavares, diretora administrativa e financeira da Planova Planejamento e Construções: “Para montar uma equipe por projetos, cuidaria mais do emocional das pessoas, pois, além da maturação de um projeto ser demorada, somente 30% a 40% dos projetos que iniciamos tornam-se realidade, o que pode ser muito frustrante.” Para a executiva, nesses casos, o grande desafio é conquistar pessoas que tendem a manter-se motivadas ao longo dos trabalhos, independentemente de seu resultado.

Nessas circunstâncias, Fernandes alerta: “Lembre-se que a motivação está ligada ao tipo psicológico. Deixe claro, desde a contratação, as características do trabalho e reconheça o bom desempenho ao longo da viagem de ida, antes de o projeto chegar ao fim incerto.”

Fonte: HSM Management 10/09/2008

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